Não olhe pro lado

Entre as coisas que tenho aprendido com a corrida de rua, a mais difícil é não olhar para os outros. Veja, estamos falando metaforicamente. Para nos mantermos em segurança durante a corrida de rua é preciso estar atento à vida que acontece à nossa volta. Existe o trânsito, as pessoas, os cachorros e nossa mente. É preciso muita força para correr em grupo, seja no treino ou em competições, e não se comparar com o outro.

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O que você pensa quando sua perna te pede pra parar?

Eu ainda estou aprendendo isso, confesso. Na minha primeira competição, em março desse ano, ao olhar para as pessoas se distanciando de mim, meu desespero foi tanto que tive uma crise de pânico. Correr não é apenas sobre colocar uma perna na frente da outra e avançar, é sobre conviver pacificamente com seus demônios internos. Saber que, assim como existe a mecânica da passada, existe a mecânica do pensamento. O que você pensa quando precisa não pensar?

Não adianta preparar o corpo e estar mentalmente despreparado. O que você se diz quando, no primeiro km, tua cabeça começa a questionar a validade de tudo aquilo? Nem sempre as pernas respondem como a gente quer. Panturrilhas sabem ser persuasivas. A respiração pode ser um gatilho para dúvidas. Nem sempre temos à nossa volta uma sinfonia de pardais. Correr é exaustivo. Não apenas fisicamente. A vontade de parar aparece sempre. “Afinal, para quem estou fazendo isso?”.  Assim como existem dias bons e ruins, existem quilômetros bons, ruins e péssimos.

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Correr é questionar o que é limite e o que é medo

É preciso autoconsciência para saber seu limite. Mas é preciso coragem para desafiar seus limites em meio às pessoas que já ultrapassaram barreiras que, para você, parecem intransponíveis. Há dois meses, meu pace se mantém no mesmo lugar. Mas foram dois meses de viagens, trabalho, doenças e machucados. Eu estou me enganando ou estou lidando com a minha realidade? E, mais importante que isso, estou focada no que eu posso fazer ou estou focada no que o outro tem feito?

Correr é uma excelente metáfora para muitas coisas. Mas, não podemos esquecer, que correr é uma escolha. Toda escolha passa por um propósito. Eu corro porque o depois faz com que eu me sinta viva. Capaz. Humana. Desafiada. Completa. Eu. Em todo fim de treino há um prazer inesperado. O que esse km diz sobre você? Talvez seja isso que pense enquanto corra. O que este tempo, esta performance diz sobre mim?

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Não compare seu começo com o meio de outra pessoa.

De qualquer forma, tenho aprendido que a resposta para essa pergunta não acontece quando coloco uma perna na frente da outra, mas quando controlo meus pensamentos de modo que eu possa colocar uma perna na frente da outra e avançar. No meu tempo. Não comparar o meu começo com o meio de outra pessoa não é uma resposta óbvia contra a frustração. É a receita básica para respeitar quem eu sou.

Correndo ou não.

5 comentários sobre “Não olhe pro lado

  1. Andréia

    Arrasou! É exatamente isso… eu solto uns palavrões e mostro quem manda! Todo mundo tem seus monstrinhos, pega um “taco” de motivos que me fizeram começar e taca-lhe pau… Quando vem o “Chefão” gasto todas as mibhas vidas com ele 🤣 ou passo de fase, ou morro, mas no próximo treino volto inteira, pro tá pra recomeçar e guardar umas vidas para o “Chefão”. A corrida é algo tão pessoal, pelo menos para mim. Não costumo olhar pro lado não, e nem pra atrás. Sempre em frente e enfrente! A gente volta e faz de novo, mas é sempre diferente… Você já conhece a fase, já sabe o que vai percorrer, e que enfrentar melhor dessa vez! Tenho dois troféus e.né fiquei para pegá-los, o tão sonhado pódio para alguns, passou despercebido por mim, entende? A corrida é apenas meu momento, eu comigo me desafiando!

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